quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Psicopolítica

Psicopolítica


Posted: 21 Nov 2013 06:07 AM 

Posted: 21 Nov 2013 06:07 AM PST
http://psicopolitica-henrique.blogspot.com/

Já passavam das 4:00 da manhã e ele não parava de se agitar, sentia-se cansado, não conseguia parar um instante caminhando de um lado para o outro, meio que se apoiando pelas paredes e não percebendo o quanto tropeçava em alguns móveis. Seus olhos piscavam freneticamente, assim como suas mãos se agitavam. Os batimentos do coração eram tão desordenados que, mesmo naquele frio da madrugada, o suor não parava de escorrer por seu rosto. Quase que num ritmo bem cadenciado coloca a mão no pescoço como querendo livrar-se de um profundo mal-estar. Parecia que sempre havia sido noite em sua vida e ele não conseguia enxergar brilho em nada, absolutamente nada! Tudo estava muito sombrio.
 
Não era pra menos. Uma verdade lhe vinha como uma lâmina cortando lentamente sua pele. Aquela mulher, aquela que conseguira, com toda a sua delicadeza, lhe arrancar um amor que estava trancado em seu peito, agora estava morta. Ele não sabia onde ela estava, mas sabia que estava morta, lhe disseram isso. Nunca havia experimentado uma dor assim, nem mesmo um amor assim. E agora sequer havia um corpo para olhar. Mas ele sabia, ele recebera a notícia. Sentia-se desfragmentar, desintegrar-se. Mas, era só o que desejava mesmo naquele momento. Talvez só isso lhe diminuísse a dor.
 
Ele tinha uma razoável noção dos traços do seu rosto. Tinha certeza que se a visse a reconheceria no primeiro instante. Não, ele nunca tivera um encontro com ela, nunca pudera enxerga-la com seus olhos. Mas, podia senti-la. Isso sim, como nada na vida, ele podia senti-la. É, o seu amor não veio através de sua beleza, ou do seu corpo. Veio através de suas palavras. Tão delicadas, tão generosas, tão doces. Foi assim que seu amor, finalmente, liberou-se. 

Por vezes, e não foram poucas vezes, parava por instantes prolongados diante de uma fotografia sua e percorria seu rosto com a ponta dos dedos, num enorme esforço para sentir sua pele. Tocava em seus cabelos na esperança de senti-los por entre os dedos, acariciava seu rosto sempre desejando um pouco daquele calor que aquele lindo sorriso parecia transbordar. Ele nunca estivera ao seu lado, mas a amava, e amava cada palavra sua, cada jeito de escrever, cada vírgula utilizada, cada sorriso largo, cada pausa preenchida por um suspiro, uma esperança.
 
Onde encontra-la? Como explicar ao mundo que ele a amava? Que a amava sem nunca tê-la tocado, sem nunca tê-la olhado nos olhos? Como explicar que lhe bastava pensar nela e seu corpo se enchia de uma esperança muito intensa. Como explicar que cada vez que pensava nela logo lhe vinha um sorriso e uma vontade enorme de que a vida, agora, realmente fizesse algum sentido. Ela era real, claro que ela era real.
 
Mas, e agora? Só lhe restava agora o desespero. Ele sabia que ela estava morta, só não sabia onde encontra-la para, numa primeira vez, beijar seu rosto, tocar sua pele, ainda que sem vida. Quem sabe com todo o seu amor ele não poderia fazê-la reviver? É... cada vez mais a fantasia lhe tomava o pensamento. Mas, não havia como. Ele não a encontrava. O desespero só aumentava. O mais profundo e cortante desespero.
 
Num breve instante tudo ficou escuro. Uma fração de segundo, e ele levanta da cama assustado, trêmulo, ofegante. Tudo não passara de um sonho. Mais um instante e ele experimentava, agora, uma estranha sensação, pois ao mesmo tempo que estava feliz, parecia que o desespero não lhe deixava. Havia sido um sonho sim, mas ele sabia que não era "só um sonho". Ali, naquele momento de angústia, de pura angústia, estavam, juntos, seu maior desejo, e seu maior medo. Tê-la em seus braços, ainda que por uma única vez, e perde-la para sempre, logo em seguida.
 
Mesmo acordado, então, o desespero continuava a lhe fazer companhia. Não mais tão dilacerador, mas permeado por medos e assombros. Onde ela estaria? Ele não queria perde-la.Não! Ela não estava morta. Tudo tinha sido mesmo um sonho. Mas, quem seria capaz de lhe convencer que o medo da perda de um amor  traria uma sensação mais amena que esta? 

Sonho e realidade se misturavam compondo um cenário que o deixava em constante estado de tensão. Mas ele a amava. E isso o fazia suportar a convivência com quaisquer medos e assombros. Em poucos instantes, o sorriso lhe voltava ao rosto. Ainda havia esperança de tê-la a seu lado! Nenhum medo seria tão forte para fazê-lo abandonar a esperança!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Portfólio

 | sábado, 9/11/2013 | 4 Comentários

O portfólio é um instrumento que agencia muita coisa na carreira de um artista. Mas ele é instrumento, não é obra. Fotógrafos, em particular, são muito apegados a esse modelo de apresentação de seus trabalhos e correm às vezes o risco de tomá-lo como objetivo mesmo de sua produção. Além disso, pesa sobre o portfólio uma tradição que toma a fotografia como uma arte de grandes tomadas, de momentos únicos, de boas composições, de imagens que se bastam, obras para serem contempladas em silêncio, isoladas num espaço próprio demarcado pelo passepartout.
Por sua vez, as leituras de portfólio têm sido para os artistas um lugar fundamental de diálogo que tanto colabora com o desenvolvimento de seus trabalhos, quanto cria oportunidades de escoar sua produção. Mas esse formato de interlocução, também muito explorada nos eventos de fotografia, nem sempre aproveita todo o potencial do encontro entre artistas e críticos, sobretudo porque convida a apresentar resultados mais ou menos acabados ou, pelo menos, um recorte muito estático da produção.
Leitura de porfolio no Fotofest 2011, em Moscou.
Leitura de porfolio no Fotofest 2011, em Moscou.
É verdade que artistas e críticos podem ser melhores do que os velhos hábitos que essa denominação convoca. Recentemente, acompanhei a certa distância um curso sobre portfólio dado por Rosely Nakagawa num curso de Pós-Graduação (aliás, curso que fiz na forma de um workshop, nos anos 90). Com o pretexto de desenvolver um portfólio, ela levou aos alunos dinâmicas que tem mais a ver com a formação de uma consciência sobre o próprio trabalho do que com a apresentação bem acabada de uma sequência de imagens.
Em todo caso, é importante tomar consciência do quanto um vocabulário pode ancorar uma dinâmica numa tradição que merece ser superada. O portfólio é utilitário, um meio a que o artista recorre para mostrar um panorama ou um recorte de sua produção. Nos tempos em que ainda havia emprego para fotógrafos, levávamos nossos portfólios aos editores, mostrando um apanhado de tudo o que sabíamos fazer. Hoje, ele ainda serve para que o artista se apresente a um curador ou galerista, para que participe de um processo seletivo, para que venda um projeto. O portfólio é, então, esse momento intermediário entre uma competência demonstrada e uma próxima realização. Mas ele é insuficiente como obra.
Como já sugeri, o problema existe quando o fotógrafo se contenta em ter como meta a produção de um bom portfólio. Nesse caso, a leitura de portfólio tem algo de tautológico: serve apenas para melhorar o portfólio! Esse mostruário neutro e idealizado é sintoma do pensamento que toma a imagem como entidade autônoma, pura, um pouco sagrada, um pouco metafísica, que quase independe de um modo de materialização. Ele é a versão bidimensional do cubo branco.
Consequência disso é que muitos fotógrafos conseguem investir na produção de boas  imagens, mas não na dinâmica efetiva que podem criar num espaço, diante de uma performance do olhar: uma montagem, uma projeção, uma intervenção num ambiente, um objeto, um livro de artista. Essas seriam apenas formas incidentais de encarnação de suas imagens, que são boas o bastante independentemente de como são mostradas.
O desejo de construir um portfólio bem resolvido e acabado também dificulta pensar no trabalho como processo. Sob a perspectiva dessa tradição, o que resta de processual a discutir é a possibilidade de um melhor tratamento, uma melhor impressão e uma melhor “edição”, aqui entendida como boa sequência de imagens.
Um portfólio fechado dá ao crítico que faz a leitura um lugar igualmente estático. Ele se senta em sua mesa portando apenas seu olhar atento e suas convicções, aguardando um artista que chega um tanto tímido e respeitoso, senta-se à sua frente, apresenta-se, abre suas imagens, e aguarda com uma postura solene que o crítico apresente seu veredito. Afinal, crítica é julgamento. Esta é uma noção um tanto rançosa de crítica de arte, em que o artista exibe seu trabalho e o crítico, falando de certa distância (e de certa estatura), decide se oferece ou não sua legitimação, como uma espécie de benção.
A interação entre críticos e artistas sempre existiu, mas ganha mais recentemente estratégias mais pontuais e transparentes por meio de grupos de estudo e de acompanhamentos de projetos. Demonstração disso, é a consolidação da noção de “crítica de processo” (que, aqui no Brasil, tem sido difundida pelas pesquisas da professora Cecília Salles). Isso tem levado muitas vezes o crítico ao ateliê do artista e permite diálogos de duração mais longa e produtiva. Isso perturba de modo muito saudável tanto o silêncio do espaço de criação e quanto a autoridade da crítica.
É difícil reproduzir essas condições no pequeno espaço e tempo restritos das leituras de portfólio. Mas cabem alguns esforços: assumir a leitura como intervenção num processo; dar ao artista a liberdade de levar trabalhos menos acabados – quem sabe, apenas começados, na forma de esboços, de ideias, de textos – e, em contrapartida, mais contextualizados em sua trajetória; dar ao crítico oportunidade de ter previamente informações sobre o trabalho que verá, e permitir que ele contribua mais com perguntas e referências que se assumem como provisórias, e menos com vereditos. Tudo isso pode libertar a noção de portfólio dos vícios de sua tradição.
Nos espaços acadêmicos de formação em artes, a preocupação de pensar a obra dentro de um processo e de um contexto já se faz refletir num jargão próprio: reconhecemos esse lugar de origem quando o artista apresenta seu trabalho falando em “minha pesquisa…”.
Assim como um termo arcaico não implica uma prática problemática, uma palavra sofisticada não salva uma produção ou um pensamento da superficialidade. Não basta trocar a expressão “meu portfólio” por “meu processo” ou “minha pesquisa”. Mas a escolha do vocabulário esconde uma preocupação interessante: a ideia de pesquisa sugere a existência de problemas ou questões que atravessam as diferentes produções de um artista, e têm o mérito de permitir enxergar um processo mais amplo, mesmo quando envolve obras acabadas e projetos concluídos.
Nos eventos de fotografia, as leituras de portfólio parecem constituir solução democrática, porque permitem colocar um grande número de participantes em interação com os convidados mais ilustres. Mas, olhando de longe, esse atendimento em massa, organizado e eficaz, cria em alguns grandes festivais cenários que parecem o de uma repartição pública, do tipo “Poupa-Tempo”. Olhando de perto, a autoridade dos leitores e o tempo disponível resultam numa espécie atividade mística, em que as imagens podem ser lidas com uma sabedoria esotérica, como cartas de tarô que permitem dizer sobre o futuro de um artista.
——
PS.: Achei que não seria ocasião de entrar aqui na noção de “leitura”, termo que é evidentemente tomado de empréstimo da linguagem verbal, mas que já tem uma boa acomodação no campo das imagens (ver, por exemplo, Leituras sem palavras, de Lucrécia D’Alessio Ferrara, Lendo imagens, de Alberto Manguel e, ainda, um interessante debate no blog Sete Fotografia. Por enquanto, podemos assumir sem muitos traumas certo uso metafórico dessa expressão. Mas também vale a discussão futuramente.
PS2.: A primeira parte desta série, dedicada à noção de “ensaio autoral”, pode se acessada aqui

 | sábado, 9/11/2013 | 4 Comentários


quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Descrição | itsNOON

Trabalho selecionado

Serão selecionados 30 trabalhos que serão expostos no La Paternal Espacio y 

Proyecto - Buenos Aires (AR) e  ( Caosarte)São Paulo (BR), junto com artistas do Movimiento de todo o mundo.




Manifesto do Movimento Inútil.

O movimento Inútil se manifesta a favor de uma sociedade livre de medos e de 
pré-conceitos. Contra a tirania do êxito, do pensamento e das prática que fazem 
da arte e da natureza uma mercancia. Do  consumo exagerado e do pensamento 
Por  uma arte consciente e comprometida, por um momento de brincar todos os 
dias, pelo tempo a perder e a permanecer em experiência.
Pelo cotidiano e o poético ao mesmo tempo. Pelos aviõezinhos de papel, a pipa, 
o baile e o bairro. A contradição. A construção. A não causalidade, a não ser a 
alteração do jogo. Não correr e sim saltar.

Movimento Inútil: Pela emancipação do pensamento e da ação. Nosso tempo 
valha mais que qualquer coisa. 
Nosso tempo vale mais que qualquer coisa, perdamos o sabiamente.

Dentro deste manifesto chamamos a artistas brasileiros e argentinos a pensar, 
ilustrar e mostrar a sua magia junto conosco.

A pergunta é:
De que forma você imagina o movimento inútil?

Use uma palavra ou frase do manifesto e a partir dela crie uma ilustração ou uma foto que transmita a ideia
Faça uma imagem ou envie uma vídeo-poesia baseada no manifesto do 


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upload by Junior AmoJr
upload, a photo by Junior AmoJr on Flickr.